Vistas urbanas
E assim, eis-nos aqui mal chegados, e damos por nós a calcorrear, soltando a poeira do empedrado que as atapeta, estas ruas que hoje nos são levemente familiares. Estas ruas, e estes caminhos, por onde corremos fugindo em divertidas brincadeiras, são os lugares de que nunca nos deveríamos ter esquecido desde a nossa infância. Caminhamos, pasmando, como num sonho feito realidade, sentindo a crescer uma força que sobe no peito a cada passo, a cada olhar de espanto e admiração, a cada lágrima de felicidade incontida. Ah! Estas cores tão vivas dos antigos edifícios ,tão surpreendentemente bem conservados , que se diria nada terem mudado durante todo este tempo. No Mercado, o ponto de encontro da gente Urbana nos seus afazeres na sua lida diária, cruzam-se histórias ditas em vozes dissonas , entoadas ao desafio; Cruzam-se as vozes do “Crioulo”, e todas juntas fazem o coro da multidão ecoando vezes sem fim nas paredes das casas, e voltando a nós num murmurar constante, mais parecem o som das ondas do Oceano ali tão perto. E cheira a peixe fresco ,cheira a Terra e cheira a Mar. O tempo parou aqui e nos nunca abandonámos este lugar. E vem-nos à memória aquelas noites, quando nos sentávamos respeitosamente do lado de fora das casas de onde vinham aquelas vozes entoadas por mulheres num tom tão triste, tão sentido, no ritmo melodioso, sincopado e ondulante da “morna”. E ontem como hoje, elas cantam a saudade e a tristeza; Cantam a saudade e a tristeza dos que partiram para a outra Terra lá longe. Partiram, para nunca mais voltar;
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